Mestre Bimba

Manoel dos Reis Machado, também conhecido como Mestre Bimba, foi criador da Luta Regional Baiana, mais tarde chamada de capoeira regional.

Manoel dos Reis Machado (1900-1974), Mestre fundador da capoeira regional, destacou-se pelos serviços comunitários e sociais que executou, principalmente com crianças e adolescentes. Instituiu o núcleo de documentação, com mais de 5000 títulos sobre capoeira e assuntos relacionados.

    Bimba é “O grande rei negro do misterioso rito africano, símbolo de resistência afro-descendente no Brasil.”

 “Mestre Bimba – Manoel dos Reis Machado – nasceu em Salvador em 23 de novembro de 1900, no bairro de Engenho Velho de Brotas, em Salvador, Bahia e recebeu o seu apelido devido a uma aposta feita entre a parteira e a sua mãe: a mãe dizia que seria uma menina e a parteira, convicta pelo seu conhecimento, dizia ser macho. Na hora do nascimento, surgiu a expressão: “GANHEI A APOSTA O CABRA TEM BIMBA E CACHO”! O apelido já nasceu com ele. Foi iniciado na capoeira aos doze anos de idade por um africano – Bentinho -, capitão da Cia. Baiana de Navegação, no que é hoje o bairro da Liberdade.

 Herança de Mestre Bimba

Mestre Bimba

Sodré (1991, apud Campos 2001) refere-se ao Mestre dizendo: “foi uma das ultimas grandes figuras do que se poderia chamar de ciclo heróico dos negros da Bahia”. Segundo Capoeira (2006, p.50) Bimba era um lutador renomado e temido. Ganhou o apelido de “Três Pancadas” porque, segundo se dizia, era o Maximo que seus adversários agüentavam.

Bimba ainda praticante de capoeira começou a ensinar em 1918, sendo seus alunos negros e mulatos das classes populares. Mas apesar da pouca idade (18 anos), possuía alunos também de classes privilegiada, como o Desembargador Décio dos Santos SEABRA, da família do ex-governador SEABRA ; Dr. Joaquim de Araújo Lima , jornalista (Imparcial e Nova Era) e mais tarde governador de Guaporé. Para estes e outros, as aulas eram particulares nos quintais e varandas de suas casas.

Mestre Bimba era um dos capoeiristas mais conceituados de sua época, pois, era muito carismático, excelente lutador e temido por alguns, pois em inúmeros desafios e combates públicos, havia sido derrotado. Mesmo sendo um “cantador” e percussionista admirável, era discriminado por grande parte dos artistas e intelectuais de Salvador (por ter criado a Capoeira Regional), porém era muito venerado por seus alunos.

Aos 29 anos de idade, o próprio Mestre Bimba contava: “Em 1928, eu criei, completa, a Regional, que é o batuque misturado com a Angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”. Assim nasceu a Capoeira Regional Baiana.

Na década de 1930, Getúlio Vargas tomou o poder e, procurando apoio popular para a sua política, que incluía a “retórica do corpo”, permitiu a prática (vigiada) da capoeira: somente em recintos fechados e com alvará da polícia. Mestre Bimba aproveitou a brecha e abriu à primeira “academia”, dando inicio a um novo período – o das academias – após o período de escravidão e de marginalidade (Capoeira 2006, p.51) Recebeu do inspetor técnico de Ensino Secundário profissional, o titulo de registro "que lhe requereu o Sr. Manoel dos Reis Machado, diretor do curso de Educação Física, sito à Rua Bananal, quatro.

Bimba ao decorrer dos anos e de sua experiência foi moldando a capoeira de ataque e defesa usada por desordeiros e pessoas de classes mais humildes, numa luta com método de ensino próprio, tornando-a um verdadeiro curso de Educação Física e criando rituais como: Batizado, Formatura e Especialização, seguindo padrões sociais e acadêmicos, pela própria nomenclatura.

Nos anos seguintes, Bimba teve grande sucesso. Em 1949, foi a São Paulo com seus alunos e realizou uma série de lutas com lutadores de outras modalidades. Em 1953, fez uma apresentação para Getúlio Vargas e recebeu o abraço do presidente, que afirmou que “a capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”.

Antes de ir para Goiânia, Bimba formou sua última turma, uma formatura muito comentada chamada 'formatura do adeus', depois deste evento ele deixou a Bahia dizendo 'Não voltarei, mas aqui, nunca fui lembrado pelos poderes públicos; se não gozar nada em Goiânia, vou gozar do cemitério. ' Depois que ele se foi veio a Salvador apenas duas vezes e dizendo que estava tudo bem, mas dona Nair nos disse 'ele foi enganado. Não volta porque é orgulhoso'. Em 05 de fevereiro de 1974 um ano depois que deixou a Bahia, morria o mestre Bimba e foi enterrado em Goiânia. Transladar os restos mortais de Goiânia para Salvador foi difícil, os seus alunos achavam que o lugar dele era Bahia "ídolo não se pertence, pertence ao seu Público”

Bimba obteve grande luta contra as autoridades, porém não uma luta de carne ou sangue, mas de dignidade e respeito à capoeira e aos capoeiristas, sendo assim nos deixou de herança:

  • A sobrevivência da Capoeira;

  • A liberdade da Capoeira;

  • A profissionalização da Capoeira;

  • A metodologia da Capoeira;

  • O respeito da sociedade pela a capoeira;

  • Além disso, Mestre Bimba também conseguiu que ficasse evidente, através de sua própria vida, o desrespeito e o descaso das autoridades pela nossa cultura.

 Conclusão

Somos gratos ao nosso maior capoeirista, Mestre Bimba, por nos deixar de herança a capoeira como dança, luta, esporte, manifestação folclórica, estilo de vida, etc. Ressaltando que: Bimba jamais, em seus 56 anos de aula, feriu um aluno. Bimba deixava claro que não devia haver luta ao som do berimbau. Seria um desrespeito aos princípios e a Regional tem como um de seus pilares o respeito à integridade física e moral dos companheiros.

Lembrando que: Mestre Bimba desafiou todos os capoeiristas e lutadores baianos da sua época e que ele venceu todas as lutas e só foi desclassificado em uma, por ter dado um galopante em seu oponente e colocado assim o adversário para fora do ringue. Mas o principal de tudo isso que deve ser ressaltado é que nunca o Mestre Bimba lutou ao som do berimbau. Luta era coisa para o ringue, afirmava ele.

O presente estudo teve por objetivo apresentar um pouco da história de Mestre Bimba, que podemos considerá-lo um marco histórico na história da cultura brasileira, um divisor de águas, pois só depois dele foi dado o nome de Capoeira Angola e foi iniciado um movimento geral de resgate e preservação da cultura afro-brasileira em todos os seus âmbitos.

Cabem a nós capoeiristas, amantes da capoeira, mestres e professores divulgar, apresentar e lutar contra os preconceitos ainda existentes, para que possamos garantir as gerações futuras a oportunidade e o direito de ter a história preservada.